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Entre a fofoca e o bom dia

  • Foto do escritor: Angelo Davanço
    Angelo Davanço
  • 25 de out.
  • 2 min de leitura

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Nas primeiras vezes em que o caipira aqui foi a São Paulo, foram vários os encantos encontrados na capital. Os arranha-céus, as largas avenidas que mais pareciam um rio Amazonas de asfalto, a fartíssima programação cultural, o encanto da região central... enfim, tudo isso e muito mais para deslumbre de qualquer tibúrcio.


Uma coisa também chamava atenção e gerava um certo choque: no ônibus, no metrô e nas ruas, as pessoas não se olhavam e muito menos se cumprimentavam. O roceiro que vos escreve vinha de um lugar onde o "diaaaa" e o "tardeee" ainda eram ocorrências normais e aquelas expressões robóticas, com olhares truncados nas janelas ou em um ponto frio e inexistente, geravam em mim a sensação de estar no set de um filme onde eu era o câmera e a ordem geral do diretor era ignorarem solenemente a lente.


Em Ribeirão esse processo de "fica na sua que eu sigo na minha" já atinge a maioria dos moradores e, por enquanto, ainda preserva alguns bairros e pessoas com mais idade.


Aqui em Bonfim isso ainda é bem forte. Em minhas caminhadas vou distribuindo "bons-dias", "nossa, hoje vai esquentar", "vamos suar a cerveja de ontem, né?", e outras frases que encontram eco e sorrisos solidários. Dá uma sensação boa de aconchego e uma falsa segurança de imaginar que estamos todos na mesma vila, cuidando uns dos outros.


E é aí que temos a contrapartida: em muitos casos cuidando literalmente da vida dos outros. Posso perfeitamente imaginar a sequência de um angelical "bom dia" daquela senhorinha no bate-papo com a vizinha, ao lado do portãozinho da calçada (outro espécime em extinção), ou seja, depois de me distanciar um pouco, bem pode rolar um: "Hmmm esse aí...".


O anonimato e individualidade quase sempre proporcionados ao morador da grande cidade são uma eficiente barreira contra o(a)s linguetas de plantão. De minha parte continuarei espalhando as platitudes diárias a conhecidos e desconhecidos aqui da Vila Bonfim, pois sei que em pouco tempo o nariz empinado dos bacanas alto padrão dos novos condomínios irá prevalecer.


Sobre as possíveis fofocas e maledicências, prefiro pensar que dei pano pra manga no bucólico passatempo à beira dos portões.

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